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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Os cidadãos são hoje como os servos da gleba de outrora


"Há grupos económicos portugueses que mantêm intactos os seus privilégios desde os tempos da monarquia. Ao longo de séculos, conseguiram domesticar todos os regimes. Até hoje, cativam uma parte significativa do orçamento de estado, à custa do qual se habituaram a enriquecer. Beneficiam de rendas das parcerias público-privadas da saúde, como acontece com o grupo Mello ou Espírito Santo. Recebem milhões pelo pagamento de juros da divida pública. Obtêm concessões em monopólio, como acontece com a Brisa, detentora, por autorização governamental, das autoestradas de Porto a Lisboa.



Os favores que recebem do estado têm revestido as mais diversas formas. No tempo do fascismo, obtinham licenças num regime de condicionamento industrial, em que só os amigos do regime podiam criar empresas. O seu domínio sobre a economia e a política vem dos tempos da monarquia, onde pontificava o conde do Cartaxo antepassado da familia Mello. Já os Espírito Santo descendem do poderoso conde de Rendufe.



Assim, estes grupos conseguiram trazer até ao século XXI, incólume, a lógica feudal, a tradição de atribuição de prebendas aos poderosos. Com uma diferença. Enquanto no tempo do feudaljsmo o rei atribuía privilégios que consistiam na doação de benefícios económicos (terras) a par de poder político (títulos). Hoje apenas se concedem favores económicos. Assim, estes grupos mantêm o poder sem os incómodos do estado democrático. Sabem que mais importante do que ter o poder na mão é ter a mão no poder. Até porque sempre influenciaram a política. Conseguiram-no no tempo de Salazar, através do fascinio que Ricardo Espírito Santo exercia sobre o ditador. Em democracia, contratam políticos de todas as tendências. Eanistas como Henrique Granadeiro, socialistas como Manuel Pinho ou social-democratas como Catroga. Neste jogo democrático viciado os cidadãos são hoje como os servos da gleba de outrora, mas agora sob a forma de contribuintes usurpados. E reféns do sistema vigente, que muitos chamam de neoliberalismo, mas que não é novo nem é liberal. É apenas a manutenção do velho feudalismo."



Paulo Teixeira de Morais

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