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domingo, 29 de maio de 2011

Monumentais barbaridades




Esta semana, para gáudio de televisões e jornais, todos muito imparciais, como é bom de ver, umas dezenas de jovenzitos, uniformizados a rigor nas suas vestes talares, mais parecendo seminaristas imberbes, esganiçaram as suas gargantas ainda não totalmente libertas das diatonais sonoridades da pobre idade, contra umas pinturas nas Escadas Monumentais de Coimbra. "Vandalismo" guincharam, esquecidos talvez, do que ainda há dias fizeram às ruas de Coimbra, que encheram de garrafas partidas de cerveja, cheiro a urina e vomitado.

Não saberão estes pobres ignorantes que essas mesmas escadas já foram pintadas centenas de vezes com propaganda a partidos, a listas para a Associação Académica, com palavras de ordem contra o regime fascista, a Pide, a política educativa do Estado Novo e de outros governos ditos democráticos? E centenas de vezes a tinta saiu e ninguém se indignou ou achou mal.

Estes pobres, vestidos de clérigos e com um QI a condizer, não se indignam com o que andam a fazer ao seu futuro, ao país que lhes pertence e que lhes paga os estudos. Não! Indignam-se, antes, com umas pinturas num local que, na sua ignorância, julgam ter um valor arquitectónico e cultural semelhante à Torre da Universidade; insultam quem lutou e luta pela Liberdade, por um país mais justo e mais próspero. Filhos família que, antes de uma lauta ceia regada com muita cerveja, acharam por bem irem ali provocar os "comunas" como os ouvem chamar, depreciativamente, nas suas burguesas casas.

E gritam "Coimbra é nossa e há-de ser". Nossa, de quem? Deles, que ali andam a passear as sebentas e a cantar a "Mulher gorda", exemplo máximo do apuramento cultural das suas cabecinhas, ou de tantos milhares de estudantes, e não só, que por lá passaram (passámos e continuamos), que lá deixaram a sua marca e por ela foram marcados para sempre?

A mim, meteram-me nojo, os pobres desgraçados.

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