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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Estou farto! Uma excelente crónica de Mário Figueiredo.





Estou farto do político poderoso que se reúne para discutir o destino de povos inteiros, de milhões de trabalhadores, ao estilo hollywoodesco, pavoneando-se na passadeira vermelha ao ritmo do flash fotográfico. Apresenta soluções, qual coelho da cartola, que antes de postas em prática já estão caducas, não fossem elas paridas pelo ventre fecundo de podridão e neoliberalismo.

Estou farto dos rapazes, que gravitam à volta desse político, chacais sentados à margem do repasto procuram lamber o tacho prometido, autênticos eunucos que, como cantou o Zeca, “lambuzam da saliva dos maiorais”.

Estou farto da cavacal figura, abjecto, “mestre das banalidades” segundo Saramago, que enquanto é roubado ao povo, todos os dias, direitos fundamentais, passeia com empresários e outros que tais, filosofando bacoquices e vomitando reaccionarices.

Estou farto do banqueiro, mestre da exploração, da especulação, da roubalheira, gângster encartado, filho de famílias vampíricas, que suga há décadas o sangue de povos inteiros.

Estou farto do empresário monopolista, “uma besta humana que rumina” dizia o Ary, que estrangula os trabalhadores, os agricultores e pequenos empresários, fomenta a injustiça e a desigualdade, para alimentar, contínua Ary, “um estômago senil que só engorda / arrotando riqueza acumulada”.

Estou farto da padralhada, falinhas mansas - Avé! Avé!-, que fazem do assistencialismo virtude, da submissão popular sacramento, foram e são um pilar fundamental do capital, dos opressores e fascistas, pregam a justiça social mas no fundo da sua sapiência só há preconceito, pecado e injustiça.

Estou farto do economista neoliberal, formado na escola do capital, com ar solene analisa, reflecte, discute sobre uma realidade, que só ele conhece, desligada dos reais problemas do povo. Teoriza sobre política económica que põe em prática à custa do bem-estar dos trabalhadores.

Estou farto do opinador “bom menino”, enfeudado ao capital, incapaz de dizer não, formatador da opinião pública, não escreve nem fala, masturba-se, não tem ideias nem convicções, mas orgasmos, ejaculações mentais. É capacho, adulador servil, vazio, “não mata os tiranos pede mais”, diz o Zeca.

Estou farto da comunicação social, submissa, bafienta, que desinforma, estupidifica, sustenta-se na mentira, na omissão, na parcialidade, protege os interesses instalados e baralha, justifica as causas da fome, da pobreza, do desemprego, da desigualdade, da injustiça e da guerra.

Estou farto da democracia burguesa, autêntico jogo de batota, que só faz parte das regras enquanto satisfaz os interesses do capital, caso contrário, organizam logo golpes de estado e boicotes de toda a espécie.

Estou farto! E por estar farto defendo a ruptura com esta política, uma sociedade justa, e entendo que a luta determinada, consistente e objectiva dos trabalhadores, dos reformados, dos agricultores, dos pequenos empresários é fundamental para travar esta ofensiva do capital promovida pelos partidos de direita. Neste contexto, a Greve Geral, no próximo dia 24, assume um papel crucial que ninguém pode faltar.



Mário Figueiredo

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