domingo, 27 de fevereiro de 2011
Será que eu um simples servente de pedreiro posso me candidatar a um emprego de cirurgião plástico no Hospital da Universidade do Porto?
O problema reside em que, ao pretender aguda e concisamente situar, criticar, saudar ou de qualquer forma comentar um facto, a escassez das palavras acaba a corresponder a um afunilamento dos conceitos e das ideias que as suportam. A tendência vem assim a ser que é fácil escrever pouco na linha da ideologia, dos conceitos dominantes, mas já é bem complicado ter espaço para explicar ponto de vista que se situe no campo oposto. No primeiro caso, as ideias estão subjacentes na maioria dos leitores, no segundo, não há espaço para as desenvolver e - como hoje se escreveria, "contextualizar o problema, como se sabe, nunca é escrever sobre o que é importante": É descobrir sobre o que é que é importante escrever.
Contudo hoje decidi escrever sobre o Armando Vara, porque acredito que Varas existem aos pontapés neste país, aliás tal e qual um substantivo que muito se utiliza no Brasil popular ou chulo, por isso achei encantador falar sobre uma personagem fabulosa e exemplar deste nosso Portugal podre e decrépito de maus costumes.
Por exemplo no outro dia quando entrou abruptamente no consultório médico, onde aliás qualquer atrevido e mal-educado pode fazer sem que ninguém o impeça. E foi o caso desse senhor.
Deve estar convencido que é dono dos portugueses, que o Sr. Vara não vale a beata de um cigarro, isso todos nós sabemos, mas falta qualquer coisa neste filme.
A Dra. passou o atestado e qual é a justificação que dá para o ter feito? O cavalheiro estava doente? Exigiu um atestado médico e foi viajar de avião? Isto cheira-me a atestado falso, fraude, crime.
Nenhum médico é obrigado a passar um atestado dessa maneira. A menos que o ameacem ou lhe apontem uma pistola á cabeça. Poderá ser isto um indicador do ponto a que este país chegou? Será que já estamos tão habituados a uma justiça favorável aos poderosos que esta gente consegue mesmo "meter-nos medo"?
Mas enfim não foi isso que me levou a escrever este artigo hoje, mas sim o facto de me lembrar de uns números, números estes que se traduzem desta forma, depois da revolução dos cravos, 40 ministros e secretários de estado saíram directamente da política para cargos em grandes empresas, só a Caixa já empregou 23 ex-governantes na administração, de Cavaco a Ferreira Leite, de Vara a Celeste Cardona, PS-PSD-CDS, as Empresas Publícas são um covil de tachos.
Por exemplo, o Armando Vara é uma autêntica história de sucesso (daquelas que apregoa o António Carrapatoso)... De funcionário de balcão a administrador bancário, mas que luxo de promoção....
Começou como simples funcionário de balcão da Caixa Geral de Depósitos. Depois do 25 de Abril mergulhou a fundo na política, filiando-se no Partido Socialista. Com 30 anos, já representava o PS na Assembleia da República, chegando a vice-presidente do grupo parlamentar. "Por concluir ficou o curso de Filosofia."No governo de Guterres foi secretário de Estado da Administração Interna, depois secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna. Após a vitória do PS em 1999, tornou-se ministro-adjunto do primeiro-ministro, com os pelouros da juventude, toxicodependência e comunicação social. Em 2000, passou a ministro da Juventude e Desporto, viu-se forçado a pedir a demissão por alegadas irregularidades cometidas pela Fundação para a Prevenção da Segurança Rodoviária, que fundara, quando era secretário de Estado, (processo que seria arquivado).
Em 2004, antes de ter qualquer licenciatura, obteve um diploma de Pós-Graduação em Gestão Empresarial. Três dias antes da sua nomeação para a Administração da Caixa Geral de Depósitos obteve o diploma de licenciatura no Curso de Relações Internacionais.
É fantástico, uma história de sucesso, do grande amigo de Sócrates, conseguiu tirar uma pós-graduação ANTES da licenciatura. Recorde-se que Armando Vara teve de se licenciar 3 dias antes de tomar posse como administrador da Caixa Geral de Depósitos porque sem uma licenciatura, esse cargo estava-lhe vedado.
Deixou a administração da Caixa para assumir a vice-presidência do Banco Comercial Português. Um mês e meio depois de ter abandonado a Caixa para assumir a vice-presidência do BCP foi promovido no banco público ao escalão máximo de vencimento, o nível 18, o que terá reflexos para efeitos de reforma. Em Outubro de 2009, Armando Vara foi constituído arguido no âmbito da operação Face Oculta, seguiu-se, em Novembro do mesmo ano, a suspensão do seu mandato de vice-presidente do Millennium BCP, renunciou ao cargo a 2 de Julho e recebeu 260 mil euros de indemnização.
Uma vergonha exemplar.
Publicada por
Miguel Leite
à(s)
12:32
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